Mudanças entre as edições de "Mariana Katona + Raphael Fonseca"

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Desde 2011, Mariana Katona Leal realiza vídeos em que confronta recortes de paisagem através do registro em vídeo. A confrontar essa dimensão técnica da imagem, com o auxílio de pincel e tinta, a artista pinta acima da imagem sobreposta da natureza. Podemos considerar estes vídeos como registros da realização de pinturas de paisagem.  
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Desde 2009, Mariana Katona Leal realiza vídeos em que confronta as linguagens da pintura e do vídeo. Com o auxílio de pincel e tinta, confronta a dimensão técnica do audiovisual e pinta acima de uma imagem sobreposta. A partir de 2011, a artista realiza dentro desta pesquisa artística algumas experiências em torno do gênero artístico da paisagem. Este ato pode ser interpretado como dentro da tradição da pintura à plein air (“ao ar livre”, como batizada no Brasil) explorada pelos artistas impressionistas; era preciso substituir a criação de uma paisagem projetada dentro do ateliê para a representação da experiência direta do artista com a natureza enquanto fenômeno.
  
Este ato pode ser interpretado como dentro da tradição da pintura à plein air (“ao ar livre”, como batizada no Brasil) explorada pelos artistas impressionistas; era preciso substituir a criação de uma paisagem projetada dentro do ateliê para a representação da experiência direta do artista com a natureza enquanto fenômeno.
 
  
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O que diferencia a proposta da artista é, primeiramente, a utilização do vídeo, ou seja, uma pintura ao ar livre que apenas existirá como vídeo. Após a concretização das pinceladas, a desconstruir qualquer pretensão de nostalgia e a refletir sobre a efemeridade contemporânea na relação entre homem e natureza, a artista inicia um processo de deterioração sobre a superfície do vidro. Pouco a pouco, a tinta retida sobre o vidro se desintegra e cria uma mancha que modifica a fruição da imagem anterior. A cópia do real se transforma em uma pintura mais próxima da abstração. A harmonia visual cede espaço para uma deterioração anticlássica e nos perguntamos: como pensar a relação entre homem e natureza na contemporaneidade?
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A princípio, a intenção desta auto-residência era prolongar para a paisagem as questões em desenvolvimento quanto à pintura e o vídeo. Para tal, foram tomadas como objeto de estudo as cachoeiras presentes entre Visconde de Mauá, Maromba e Maringá.
  
O que diferencia a proposta da artista é, primeiramente, a utilização do vídeo, ou seja, uma pintura ao ar livre que apenas existirá como vídeo. Após a concretização das pinceladas, a desconstruir qualquer pretensão de nostalgia e a refletir sobre a efemeridade contemporânea na relação entre homem e natureza, a artista inicia um processo de deterioração sobre a superfície do vidro. Pouco a pouco, a tinta retida sobre o vidro se desintegra e cria uma mancha que modifica a fruição da imagem anterior. A cópia do real se transforma em uma pintura mais próxima da abstração. A harmonia visual cede espaço para uma deterioração anticlássica e nos perguntamos: como pensar a relação entre homem e natureza na contemporaneidade?
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Como referência artística, foi rememorado o fascínio provocado por elas desde a produção artística clássica, com especial destaque para os artistas do século XIX. Não são poucos os exemplos de pinturas realizadas, por exemplo, no Rio de Janeiro, após a chegada da Missão Artística Francesa, em que os pintores tentam “dominar” e transformar a água movente (tida como a natureza em estado “selvagem” de atividade) em uma pintura.
  
A princípio, os objetos de estudo desta auto-residência eram as cachoeiras presentes entre Visconde de Mauá, Maromba e Maringá devido ao fascínio provocado por elas desde a produção artística da tradição clássica, com especial destaque para os artistas do século XIX. Não são poucos os exemplos de pinturas realizadas, por exemplo, no Rio de Janeiro, após a chegada da Missão Artística Francesa, em que os pintores tentam “dominar” e transformar a água movente (tida como a natureza em estado “selvagem” de atividade) em uma pintura.
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Estas referências foram aliadas à pesquisa sobre gesto, vídeo e pintura que desenvolvo. Algumas percepções a destacar:
  
De todo modo, mesmo com este enfoque primeiro para esta residência, o contato com outros residentes e com os acasos dos momentos de realização do trabalho, não impediram que outros dois elementos fossem explorados: o corpo feminino, tal qual um modelo vivo em movimento, e a paisagem montanhosa dessa região geográfica que é uma espécie de interseção entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
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- o gesto do pincel que delineia a paisagem;
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- o gesto do reflexo (as várias camadas sobrepostas em uma única paisagem);
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- a ação da paisagem (e sua interpretação como gesto);
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- a tinta, ao mesmo tempo que tenta copiar a paisagem, a esconde na sua textura disforme;
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- a experiência de captar essa imagem em seu estado bruto;
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- uma mistura de textura e perspectiva aliada à câmera.  
  
 
Além da produção de vídeos, os vidros, superfícies destas pinturas, foram transformados em objetos finais desta vivência artística. Mesmo com a ação deteriorante sobre a tinta, parte do vidro ainda retém vestígios paisagísticos das pinceladas da artista. Deste modo, eles se tornam lembranças do gesto de se representar uma paisagem.
 
Além da produção de vídeos, os vidros, superfícies destas pinturas, foram transformados em objetos finais desta vivência artística. Mesmo com a ação deteriorante sobre a tinta, parte do vidro ainda retém vestígios paisagísticos das pinceladas da artista. Deste modo, eles se tornam lembranças do gesto de se representar uma paisagem.
  
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- o corpo feminino, tal qual um modelo vivo em movimento. Colocar em cheque o corpo na paisagem. O revelar do gesto da modelo que é copiada. A destruição da paisagem e do corpo, o gesto que desfaz a pintura e revela a soma, o que é escondido pela textura das tintas que forma uma terceira coisa, a pintura que é destruída que revela um somatório de experiências ligadas à textura da paisagem e a pintura;
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- a paisagem montanhosa dessa região geográfica que é uma espécie de interseção entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
  
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Estas experiências contribuíram para desvirtuar positivamente a ideia inicial do projeto.
  
 
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Edição das 21h34min de 5 de fevereiro de 2012

projeto

Desde 2009, Mariana Katona Leal realiza vídeos em que confronta as linguagens da pintura e do vídeo. Com o auxílio de pincel e tinta, confronta a dimensão técnica do audiovisual e pinta acima de uma imagem sobreposta. A partir de 2011, a artista realiza dentro desta pesquisa artística algumas experiências em torno do gênero artístico da paisagem. Este ato pode ser interpretado como dentro da tradição da pintura à plein air (“ao ar livre”, como batizada no Brasil) explorada pelos artistas impressionistas; era preciso substituir a criação de uma paisagem projetada dentro do ateliê para a representação da experiência direta do artista com a natureza enquanto fenômeno.


Ao ar livre processo 4.jpg


Ao ar livre processo 3.jpg


O que diferencia a proposta da artista é, primeiramente, a utilização do vídeo, ou seja, uma pintura ao ar livre que apenas existirá como vídeo. Após a concretização das pinceladas, a desconstruir qualquer pretensão de nostalgia e a refletir sobre a efemeridade contemporânea na relação entre homem e natureza, a artista inicia um processo de deterioração sobre a superfície do vidro. Pouco a pouco, a tinta retida sobre o vidro se desintegra e cria uma mancha que modifica a fruição da imagem anterior. A cópia do real se transforma em uma pintura mais próxima da abstração. A harmonia visual cede espaço para uma deterioração anticlássica e nos perguntamos: como pensar a relação entre homem e natureza na contemporaneidade?

processo

A princípio, a intenção desta auto-residência era prolongar para a paisagem as questões em desenvolvimento quanto à pintura e o vídeo. Para tal, foram tomadas como objeto de estudo as cachoeiras presentes entre Visconde de Mauá, Maromba e Maringá.

Como referência artística, foi rememorado o fascínio provocado por elas desde a produção artística clássica, com especial destaque para os artistas do século XIX. Não são poucos os exemplos de pinturas realizadas, por exemplo, no Rio de Janeiro, após a chegada da Missão Artística Francesa, em que os pintores tentam “dominar” e transformar a água movente (tida como a natureza em estado “selvagem” de atividade) em uma pintura.

Estas referências foram aliadas à pesquisa sobre gesto, vídeo e pintura que desenvolvo. Algumas percepções a destacar:

- o gesto do pincel que delineia a paisagem; - o gesto do reflexo (as várias camadas sobrepostas em uma única paisagem); - a ação da paisagem (e sua interpretação como gesto); - a tinta, ao mesmo tempo que tenta copiar a paisagem, a esconde na sua textura disforme; - a experiência de captar essa imagem em seu estado bruto; - uma mistura de textura e perspectiva aliada à câmera.

Além da produção de vídeos, os vidros, superfícies destas pinturas, foram transformados em objetos finais desta vivência artística. Mesmo com a ação deteriorante sobre a tinta, parte do vidro ainda retém vestígios paisagísticos das pinceladas da artista. Deste modo, eles se tornam lembranças do gesto de se representar uma paisagem.

De todo modo, mesmo com este enfoque pensado para esta residência, o contato com outros residentes e com os acasos dos momentos de realização do trabalho não impediram que outros elementos fossem explorados:

- o corpo feminino, tal qual um modelo vivo em movimento. Colocar em cheque o corpo na paisagem. O revelar do gesto da modelo que é copiada. A destruição da paisagem e do corpo, o gesto que desfaz a pintura e revela a soma, o que é escondido pela textura das tintas que forma uma terceira coisa, a pintura que é destruída que revela um somatório de experiências ligadas à textura da paisagem e a pintura;

- a paisagem montanhosa dessa região geográfica que é uma espécie de interseção entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Estas experiências contribuíram para desvirtuar positivamente a ideia inicial do projeto.

processo

Colocar em cheque seu corpo na paisagem e revelar seu gesto enquanto é copiada;

em extensão na paisagem.


A destruição da paisagem e do corpo, o gesto que desfaz a pintura e revela a soma, o que é escondido pela textura das tintas que forma uma terceira coisa, a pintura que é destruída que revela um somatório de experiências ligadas à textura da paisagem e a pintura. Uma mistura de textura e perspectiva aliada à câmera. Há aqui um confronto entre as cores da paisagem e dos pigmentos pictóricos.